quarta-feira, 18 de abril de 2012

Mastocitomas em pequenos animais


Mastocitomas são os tumores cutâneos mais comuns no cão e o segundo mais comum no gato, estando geralmente localizados na pele ou no espaço subcutâneo. São encontrados em cães e gatos idosos, apesar de já terem sido relatados em animais extremamente jovens. Em cães, as raças mais comumente afetadas são Boxers, Boston terriers, Pugs, Labradores, Terriers e Beagles. A única raça felina descrita com risco aumentado é a siamesa. Não há predileção de gênero e a etiologia é ainda desconhecida. Uma grande percentagem de casos com mastocitomas diferenciados possuem mutações genéticas no c-kit (receptor de células tronco) que pode ser responsável pelo aparecimento ou progressão o mastocitoma em cães. No entanto, nem em todos os casos são encontradas mutações no c-kit, o que sugere que estes não são os únicos mecanismos para o desenvolvimento ou progressão desta neoplasia (FRIMBERGER, 2007; BERGMAN, 2008).



De acordo com BERGMAN (2008) de oitenta e cinco a noventa por cento dos caninos e felinos com mastocitomas possuem nódulos solitários e nem todos os pacientes com nódulos múltiplos possuem metástases ou mastocitose. Mastocitomas bem diferenciados geralmente apresentam crescimento lento, diâmetro menor que quatro centímetros, são não-ulcerados, podem apresentar áreas alopécicas e estarem presentes por mais de seis meses. Já os mastocitomas pouco diferenciados apresentam crescimento rápido, grandes diâmetros, ulcerações, inflamações locais e raramente estão presentes por mais de três meses antes do diagnóstico. Como a maioria dos mastocitomas apresentam diferenciação intermediária os sinais clínicos podem abranger características dentre estes dois extremos.

O tratamento indicado para a maioria dos mastocitomas é a excisão cirúrgica com margens amplas, no mínimo de dois a três centímetros lateralmente e um plano fascial abaixo, sendo a radioterapia e/ou quimioterapia recomendada quando não é possível remoção completa.

Os mastocitomas caninos são muito variáveis, não sendo possível prever seu comportamento baseado em aparência clínica. O prognóstico pode ser estimado com informações provenientes do exame histológico e avaliação das margens cirúrgicas. Tambem imunohistoquimica é usada para prever o prognostico do mastocitoma (mutacao do KIT, e marcadores de membrana AGnor, Ki67, PCNA, KIT).

Exame Imunohistoquimico de mastocitoma canino 
Histórico e sinais clínicos

O histórico e sinais clínicos de felinos e caninos com mastocitoma pode ser variável, de acordo com o comportamento tumoral. Alguns tumores podem permanecer por meses ou anos antes de se disseminar rapidamente, enquanto outros agem agressivamente desde o seu aparecimento. Aproximadamente seis por cento dos cães apresentarão múltiplos mastocitomas cutâneos (FRIMBERGER, 2007). A maioria destes tumores não implica em sinais clínicos, no entanto, podem estar presentes sinais relacionados à liberação de heparina, histamina e outras aminas vasoativas. A manipulação do tumor ou mudanças extremas na temperatura podem levar à degranulação dos mastóticos e subseqüente formação de eritema local e até úlceras gastrointestinais, causando anorexia, êmese e melena. O tumor pode aumentar ou diminuir de tamanho em um período de 24 horas, o que pode aumentar a suspeita do diagnóstico de mastocitoma (BERGMAN, 2008). Pode também estar presente nas vísceras sem acometimento cutâneo concomitante, apesar de ser incomum em cães e seu prognóstico ser reservado. 

Diagnóstico e Estadiamento

A punção aspirativa por agulha fina (PAAF) e citologia são os procedimentos básicos para diagnóstico de mastocitoma antes da remoção cirúrgica. A citologia é importante para indicar o tipo de neoplasia e prever seu grau, o que vai afetar a decisão do tratamento. A citologia evidencia células redondas que podem ter grandes grânulos citoplasmáticos bem corados, caso seja um tumor bem diferenciado, ou células anaplásicas, com pequenos grânulos citoplasmáticos pouco corados (tumor pouco diferenciado). Eosinófilos são comumente evidenciados na citologia dos mastocitomas devido à quimiotaxia à liberação de histamina (FRIMBERGER, 2007).


Após o diagnóstico citológico ser feito deve-se proceder ao estadiamento da doença, através do exame físico completo e exames complementares como hemograma, exames bioquímicos, urinálise, citologia dos linfonodos regionais e ultrassom abdominal. Os mastócitos tumorais podem invadir os linfonodos regionais, posteriormente o baço e o fígado e finalmente a medula óssea. A evidência de esplenomegalia e hepatomegalia pode indicar que o tumor está disseminado e a citologia destes órgãos pode ser útil para confirmar o diagnóstico. Agregados de mastócitos e eosinófilos podem estar presentes nos linfonodos regionais devido a uma resposta inflamatória ao tumor, podendo-se confirmar o diagnóstico através de biópsia. Ferramentas diagnósticas adicionais como radiografias torácicas e exame da medula óssea podem ser empregadas caso aja indicação. A presença de mais de 1% de mastócitos na medula óssea indica disseminação neoplásica, no entanto, a metástase pulmonar do mastocitoma é rara (FRIMBERGER, 2007; BERGMAN, 2008). Segundo RIVIÈRE et al.(2007), a citologia dos linfodonos regionais mostrou-se suficiente para o estadiamento, indicando o estadiamento completo caso este esteja infiltrado. È importante fazer o estadiamento de todos os cães com mastocitoma para determinar a extensão da doença, sendo principalmente importante em pacientes que tem a indicação de uma cirurgia agressiva, como amputação, ou radioterapia.

O tratamento do mastocitoma envolve cirurgia, quimioterapia e radioterapia, isoladamente ou em conjunto. Após o diagnóstico ser feito com citologia ou biópsia incisional e o estadiamento ser realizado, evidenciando ausência de metástases distantes o tratamento de escolha é a exérese cirúrgica. A recomendação padrão para obter completa remoção tumoral e margens limpas é a retirada de três centímetros em volta e um plano fascial abaixo do nódulo (BERGMAN, 2008) apesar de que FULCHER (2006) demonstrou que uma margem de dois centímetros e um plano fascial foram suficientes para a maioria dos mastocitomas grau II. 

Pacientes com remoção cirúrgica incompleta do mastocitomaRadioterapia também é utilizada como uma excelente terapia pós-operatória, quando disponível, irradiando o local da cicatriz e os linfonodos regionais. As taxas de recorrência para mastocitomas grau II removidos completamente variam de cinco a vinte por cento, já para os tumores removidos incompletamente variam de vinte e cinco a quarenta por cento (SEGUIN et al, 2001). Portanto, é ainda recomendável utilizar tratamento local adicional para todos os mastocitomas removidos incompletamente. 

A quimioterapia é uma terceira modalidade na ordem de importância no tratamento do mastocitoma, sendo a cirurgia e a radioterapia as duas primeiras. No entanto, devido à escassa disponibilidade de centros médico veterinários com radioterapia, a quimioterapia torna-se de grande importância no tratamento dos mastocitomas.

A dosagem dos medicamentos quimioterápicos é calculada com base na área corpórea, pois melhor adéqua ao estado fisiológico e metabólico do paciente e a poliquimioterapia é mais eficaz do que a utilização isolada de um fármaco.

Dra Luana Torres
Médica Veterinária